Uma das qualidades de um texto é a empatia. Colocar-se no lugar do outro ajuda a criar uma conexão com o seu interlocutor e leva-lo a prestar atenção no que você quer dizer. Há várias maneiras de fazer isso, mas antes de tudo é preciso entender o que desperta emoção no seu leitor.
Ter empatia não significa concordar com o outro. Você pode muito bem pensar de forma completamente diferente, mas ainda assim expor sua opinião para criar um caminho para o diálogo (a não ser, é claro, que você prefira o monólogo) e tentar entender os sentimentos e emoções da outra pessoa. Empatia deriva do grego ‘empátheia’, ligada a sentimento, emoção. Ter empatia significa estabelecer uma cognição a partir das referências internas do outro.
Mas estamos falando de linguagem, e como manifestar empatia num texto?
Bem, podemos pensar nos inúmeros textos que falam sobre crenças e valores que estão em todo lugar: você escreve e compartilha diariamente nas redes sociais, com colegas, amigos e familiares. Você já prestou atenção no tom desses textos? São agressivos, irônicos, engraçados? Que tipo de sentimento você acha que provocam? E que tipo de sentimento você gostaria que provocassem?
Não estou dizendo para escrever o que agrada ao outro, de jeito nenhum, só afirmo que cabe uma autoavaliação. Talvez você tenha muito a dizer, mas se está usando uma linguagem que não atinge o alvo, para que serve o texto?
Porque desabafos que não dizem respeito a ninguém, a gente faz no diário secreto. Ao publicar um texto, você espera uma reação. Vejo com muita frequência textos que usam termos como ‘vagabundo’, ‘corja’, e quem escreve se espanta com reações exacerbadas, a favor ou contra.
Será que é desta forma que colaboramos para uma sociedade crescer? Quando você publica textos assim, consegue sentir que contribuiu com as pessoas ao seu redor?
Empatia = linguagem não violenta
Gostaria de dar um exemplo do que empatia significa para mim. Eu estava dirigindo já tarde da noite numa avenida bem movimentada de São Paulo e ia entrar à direita numa determinada rua. Dei seta e de repente tomei uma baita fechada pela direita; só não bati o carro porque tive reflexo rápido, mas mesmo assim ainda deu uma triscada. Buzinei, xinguei, acenei, fiz tudo o que é comum no trânsito daqui.
Para minha surpresa, o outro motorista nem revidou. Ele entrou na mesma rua que eu, e acontece que é o endereço de um pronto-socorro infantil. Só vi quando ele tirou uma criança desfalecida do carro e entrou completamente transtornado no hospital.
Está certo, não havia como saber o que estava acontecendo no outro carro naquele momento, e de mais a mais o motorista realmente cortou minha passagem. Mas também não há como saber o que se passa com cada pessoa sem que nosso olhar seja um pouco mais generoso do que a necessidade de expor uma opinião com o dedo apontado para o próximo.
p.s.: desde então, a cada vez que levo uma fechada no trânsito lembro dessa cena.